sábado, 6 de setembro de 2008

O filho que ainda não veio.

Todo dia ele faz diferente, não sei se ele volta da rua. Não sei se me traz um presente, não sei se ele fica na sua. Talvez ele chegue sentido, quem sabe me cobre de beijos. Ou nem me desmancha o vestido, ou nem me adivinha os desejos. Dia ímpar tem chocolate, dia par eu vivo de brisa. Dia útil ele me bate, dia santo ele me alisa. Longe dele eu tremo de amor, na presença dele me calo. Eu de dia sou sua flor, eu de noite sou seu cavalo. A cerveja dele é sagrada, a vontade dele é a mais justa. A minha paixão é piada, sua risada me assusta. Sua boca é um cadeado e meu corpo é uma fogueira. Enquanto ele dorme pesado eu rolo sozinha na esteira.

Não, não. Esse texto não é meu. Quem me dera escrever assim. Pois é, Chico Buarque.
Será que paixão tem que ser assim? Pelo menos dia ímpar tem chocolate, e dia par... Bem, dia par eu me viro. Nos dias ímpares eu me contento. O nome mesmo já diz: ÍMPAR. É único, é a sensação única, talvez de última. Ai meu Deus, que não seja a última. E se for a última, ai meu Deus, me livra da brisa e me alivia a cabeça.

2 comentários:

Natália Kleinsorgen disse...

Todo dia eu sonho poder. Penso em tocar, quero dividir, sonho em gemer. E tem dia que canso, claro que canso de me iludir. Mas enquanto chegar em casa e ouvir, essa voz mesmo, dentro da minha cabeça, da minha caixola -e sei lá, pode ser que eu mereça-, talvez me permita continuar sonhando... Até que algum de nós adoeça. Meu amor é mola e se embola, enrola, enrola.

Anônimo disse...

parece que ele conta nossa vida!