“Foi nos bailes da vida ou num bar
Em troca de pão
Que muita gente boa pôs o pé na profissão
De tocar um instrumento e de cantar
Não importando se quem pagou quis ouvir
Foi assim
Cantar era buscar o caminho
Que vai dar no sol
Tenho comigo as lembraças do que eu era
Para cantar nada era longe tudo tão bom
Até a estrada de terra na boléia de caminhão
Era assim
Com a roupa encharcada e a alma
Repleta de chão
Todo artista tem de ir aonde o povo está
Se foi assim, assim será
Cantando me desfaço e não me canso
de viver nem de cantar”
- Como é?
- Não ouviste?
- Ouvi. Mas que bela frase! Repita, por favor.
- Cantando me desfaço e não me canso de viver nem de cantar.
Os calos da mão eram uma boa prova da força bruta do dia. Não, não eram calos de enchada, muito menos botava a mão na obra. Só na obra cotidiana da vida mesmo.
Sempre tudo tão rotineiro. Rotineiro levantar cedo, rotineiro fazer o café, rotineiro... rotineira a rotina. E para quebrar a rotina cantava, cantava para se desfazer do cansaço da vida.
Radinho de pilha; gogó.
Ouviu o barulho solitário da vassoura? A piaçava que arranhava o chão de cera avermelhada, tirando a poeira marrom da estrada.
Janela de madeira com três vasinhos de flores campestres. Porta aberta. Capacho no chão da porta aberta para a vida.
Lenço cobrindo os longos cabelos, protegendo os longos cabelos. Saia, avental, chita, chinelo e coração batendo por uma espera.
Espera de quem chegava as 18h do mesmo dia, mas o motivo era mesmo o da espera de sair do silêncio. Pois sabia que mesmo após as 18h a rotina continuaria a mesma, mas o silêncio já não cantava mais. Agora conversava.
Até mesmo as conversas eram rotineiras, sempre trabalho... trabalho e nunca, nem mesmo, uma simples pergunta de como você está? Estou falando tanto de mim, e você como está? Mas não não, era apenas ouvinte. Também não faria mesmo tanta diferença se ele perguntasse, porque a resposta ele já sabia, e ela também. Mas as vezes só o fato de falar besteira já descontraía.
Não faz mesmo diferença, estava acostumada. Será que ele não percebia?
Não tinham filhos, será que tê-los seria a salvação? Talvez não, seria apenas um trabalho a mais. Mas que amargura, mulher!
É, mas era cantando que ela desfazia o cansaço da vida. Só restava uma coisa, pobre mulher. Restava viver o resto da rotina.
Obrigações de casa, obrigações de cama, obrigações da vida. Dormia e acordava, varria, cantava, radinho, gogó, porta, capacho, janela, espera, do nada, silêncio, 18h, obrigações, dormia, acordava... E a vida passava.
Em troca de pão
Que muita gente boa pôs o pé na profissão
De tocar um instrumento e de cantar
Não importando se quem pagou quis ouvir
Foi assim
Cantar era buscar o caminho
Que vai dar no sol
Tenho comigo as lembraças do que eu era
Para cantar nada era longe tudo tão bom
Até a estrada de terra na boléia de caminhão
Era assim
Com a roupa encharcada e a alma
Repleta de chão
Todo artista tem de ir aonde o povo está
Se foi assim, assim será
Cantando me desfaço e não me canso
de viver nem de cantar”
- Como é?
- Não ouviste?
- Ouvi. Mas que bela frase! Repita, por favor.
- Cantando me desfaço e não me canso de viver nem de cantar.
Os calos da mão eram uma boa prova da força bruta do dia. Não, não eram calos de enchada, muito menos botava a mão na obra. Só na obra cotidiana da vida mesmo.
Sempre tudo tão rotineiro. Rotineiro levantar cedo, rotineiro fazer o café, rotineiro... rotineira a rotina. E para quebrar a rotina cantava, cantava para se desfazer do cansaço da vida.
Radinho de pilha; gogó.
Ouviu o barulho solitário da vassoura? A piaçava que arranhava o chão de cera avermelhada, tirando a poeira marrom da estrada.
Janela de madeira com três vasinhos de flores campestres. Porta aberta. Capacho no chão da porta aberta para a vida.
Lenço cobrindo os longos cabelos, protegendo os longos cabelos. Saia, avental, chita, chinelo e coração batendo por uma espera.
Espera de quem chegava as 18h do mesmo dia, mas o motivo era mesmo o da espera de sair do silêncio. Pois sabia que mesmo após as 18h a rotina continuaria a mesma, mas o silêncio já não cantava mais. Agora conversava.
Até mesmo as conversas eram rotineiras, sempre trabalho... trabalho e nunca, nem mesmo, uma simples pergunta de como você está? Estou falando tanto de mim, e você como está? Mas não não, era apenas ouvinte. Também não faria mesmo tanta diferença se ele perguntasse, porque a resposta ele já sabia, e ela também. Mas as vezes só o fato de falar besteira já descontraía.
Não faz mesmo diferença, estava acostumada. Será que ele não percebia?
Não tinham filhos, será que tê-los seria a salvação? Talvez não, seria apenas um trabalho a mais. Mas que amargura, mulher!
É, mas era cantando que ela desfazia o cansaço da vida. Só restava uma coisa, pobre mulher. Restava viver o resto da rotina.
Obrigações de casa, obrigações de cama, obrigações da vida. Dormia e acordava, varria, cantava, radinho, gogó, porta, capacho, janela, espera, do nada, silêncio, 18h, obrigações, dormia, acordava... E a vida passava.
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